Saíste do ninho e estás por tua conta? Mudaste de casa / cidade / país e encontras-te a viver a feliz experiência da auto-gestão? Este blog também é para ti!
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Encarrapitada no cimo do escadote a limpar os azulejos da casa de banho, recordo com saudade os tempos em que morava com os papás e vivia feliz na mais completa ignorância. Não me recordo de alguma vez ter atravessado o meu espirito, durante esses anos dourados de sorna e mândria, a problemática dos azulejos.
Quer dizer, os azulejos estavam lá, nas casas de banho, e basicamente era isso que havia a dizer sobre eles. Mesmo quando fui morar na minha própria casa, a temática não alcançou grandes desenvolvimentos. Sim, reparei que a casa de banho tinha azulejos. Eram de um tom beige suave e sóbrio, eu e eles mantinhamos uma relação discreta de proximidade respeitosa: eles não me incomodavam e eu nunca me metia na vida deles.
Até que um dia, quando visitava um blog de grande sucesso na área da organização do lar, reparo num post em que a autora dava algumas dicas sobre um determinado produto de limpeza, que ela vivamente aconselhava aos leitores como sendo o supra-sumo na higienização da casa de banho. Dizia ela então que, embora não fosse grande fanática de limpezas, pelo menos de quinze em quinze dias limpava os azulejos todos, até ao tecto, com o dito produto. De quinze em quinze dias. A sério. Embora não fosse fanática.
Isto abriu um mundo de incertezas no meu universo. Ondas de choque abalaram as minhas convicções. E eu que nem sonhava que era suposto lavar os azulejos. Mas que mundo é este, em que as pessoas não são preparadas para os factos da vida? Quem esconde do seu semelhante tão preciosas informações? Tantas coisas que me ralam.
Ora atentem nesta m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a peça poética que escrevi especialmente para o concurso literário de elevado recorte intelectual dinamizado pela não menos m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a Filipa:
Deixar o protegido ambiente familiar e morar sozinho pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes. Podemos fazê-lo cheios de planos e perspectivas optimistas, podemos ser forçados por situações menos boas. Penso que não falto muito à verdade se disser que a principal razão para deixar o conforto do lar tem sido, nos últimos anos, a necessidade de emigrar e procurar noutro país melhores condições de vida, quer a nível pessoal, quer profissional. Não deve haver ninguém em Portugal que não tenha presenciado esta situação, senão na primeira pessoa, pelo menos na vivência de um familiar, amigo ou conhecido.
E se muitas pessoas têm obtido lá fora o sucesso profissional que lhes foi vedado no seu país, nem todos os casos são de sucesso. Muitos jovens portugueses têm vivido experiências de emigração completamente frustantes e até situações angustiantes de carência e desespero, que os obrigam a um regresso atribulado e desludido.
É que, apesar de ser muito legítimo apreciarmos e pretendermos para nós e para os nossos a qualidade de vida e as boas condições sociais que observamos em outros países, isso nem sempre significa que essas oportunidades ambicionadas estarão lá à nossa espera - sobretudo na actualidade, em que os países mais apetecíveis estão diariamente a ser "invadidos" por centenas de milhares de emigrantes de todos os continentes.
Ir ou não ir trabalhar para outro país depende muito daquilo que é o nosso currículo académico ou do que são as nossas capacidades e competências profissionais e depende, naturalmente, do país para onde pretendemos emigrar. Por isso mesmo, é fundamental ter uma noção bastante realista daquilo que nos espera nesse país antes de nos lançarmos numa aventura que pode vir a revelar-se uma grande decepção.
Antes de tomar qualquer decisão, há que procurar infomações, ouvir testemunhos, partilhar dúvidas e sobretudo, preparar um fundo de maneio para os imprevistos que possam estar logo ali ao virar da fronteira.
Esta questão das meias desemparelhadas é uma coisa que me apoquenta, não sei se já repararam. A Maki adianta uma teoria consistente e plausível que se baseia na responsabilização de ninjas no surgimento do fenómeno das peúgas desirmanadas. Já eu tenho vindo a desenvolver um processo de investigação científica e minuciosa, do qual apresento relatório dos factos observados:
a) Os objectos de estudo, a.k.a. meias, estavam connosco no autocarro: víamo-las a espreitar pelo cano das botas. Ok.
b) Tirámo-las na casa de banho antes do duche. Check.
c) Deixámo-las ficar no chão da casa de banho algum tempo, bondosamente aguardando que se fossem pôr a lavar de ânimo próprio. Não foram, reparamos nós ao fim de alguns dias. Pior, começaram a juntar-se mais pares, silenciosamente a afrontarem-nos sempre que entramos na casa de banho.
d) A determinada altura, já não aguentamos mais a sua postura crítica e desafiadora na tijoleira do chão (o cheiro também não ajuda) e lá as levamos para a máquina de lavar. Certo.
e) Um dia, não sabemos muito bem quando, pomos a máquina a lavar. Confere. Outro dia, de preferência não muito distante do primeiro, tiramos a roupa da máquina e é a partir daí que o mistério se adensa: é todo um clube de swing das mulas das meias que nunca mais acasalam com o parceiro certo.
f) Curiosamente, este fenómeno adensa-se na proporcionalidade directa do nosso atraso matinal a multiplicar pela pressa que temos em finalmente sairmos da maldita casa.
Dia de chuva, granizo, frio e neve. Uma tarde de filmes, mantinha, chá e bolo de arroz. Tão bom.
Bolo de arroz
250 grs de açúcar amarelo
1 dl de azeite
6 ovos
6 colheres de sopa de leite
150 grs de farinha de trigo (tenho um fetiche com esta)
150 grs de farinha de arroz
2 colheres de sobremesa de fermento
Bate-se o açúcar com o azeite e o leite. Sem parar de bater, juntam-se os ovos inteiros um a um. Depois vai-se adicionando as farinhas (misturadas com o fermento) aos poucos e bate-se por mais um minuto.
Pré-aquece-se o forno a 180º. Deita-se a massa numa forma untada com manteiga e polvilhada com farinha e vai a cozer durante meia hora. Atenção ao tempo, porque este bolo coze demais em poucos minutos.
Bem sei que é uma sobremesa politicamente incorrecta, a decadência do açucar... e fritos e tal... Mas às vezes não há como resistir. Eu não consegui. (A maçanita lá atrás está a compor o ambiente.)
Não sei como é que alguém ainda não se lembrou de fazer uma tese de doutoramento acerca da intrincada ciência da gestão das meias. Desde o momento em que chegam a nossa casa todas emparelhadinhas como noivas de Santo António (já vos disse que cheguei a pensar que elas nasciam de geração espontânea na gaveta da cómoda?), até ao dia fatídico em que descobrimos que quase todas perderam o cônjuge algures na selva tenebrosa e labiríntica que é a nossa casa (vulgo t-zero com 35 m2). Seriam anos de vida dedicados à investigação, digo-vos eu.